quinta-feira, 11 de novembro de 2010

(...) E talvez fosse o efeito daquele silêncio tenebroso que a deixara assim, gelada; enquanto a visão do seu sonho escapava lentamente pela janela. Aquela visão que - como de costume - seria tão anestésica, se a dor da perda não se sufocasse tanto, e tão completamente.
Numa tarde de julho, o sol levemente atravessando as vidraças da cozinha, transpassando-as, e projetando traços e formas reluzentes na prataria; nos vidros da prateleira e especialmente no jarro ao centro da mesa; cujo qual portava flores silvestres, todas leves e pequenas, trazendo um frescor inédito ao ambiente; ao passo que suas cores apáticas se misturavam pelo cômodo. O cheio forte de café fresco a tirou da cama confusa, deixando o velho sonho para trás. E com a esperança de acordar daquela nortidez ela abriu a porta da cozinha. Para sua inesperada surpresa sentiu uma batida viva em seu coração, ao se deparar com aquele elemento que completava o quadro, ele. Como se tivesse sido desenhado à tinta guache, ele estava ali, imóvel ao vê-la. A sensação de dor pareceu ser sugada de dentro para fora, e ela apenas piscou, por um momento estática; e em seguida começou a caminhar, tímida, seu rosto voltando a ter cor. Não era como se ela estivesse curada, era como se ela nunca tivesse sido metade.
"Wishing you could be doing something else
Even though
You don't even know
What that would be"